Sexualidade Madura, Fidelidade e Perversão- continuação

A relação entre o homem e a mulher espelha uma quase perfeita simetria e, geralmente, o que é antecipado em relação ao outro ocorre no real. Afeto e sexo estão presentes. Eles são complementares e mutuamente gratificantes. Quer porque a relação sexual foi boa a partir do primeiro encontro ou porque o encontro afetivo foi construído satisfatoriamente. Ou ainda, porque o encontro afetivo se traduziu em uma relação sexual satisfatória e vice-versa.

Uma relação sexual madura ocorre quando um quer satisfazer o desejo do outro. Muitas vezes, superando seus próprios preconceitos e limitações. A relação baseia-se, necessariamente, na segurança de cada um dos indivíduos, na ausência de possessividade e ciúmes e em um alto grau de prazer sexual. Além da admiração e respeito pela sua individualidade do outro, existe um certo compartilhamento amoroso do companheiro no social. Se estas précondições forem acompanhadas por uma escolha satisfatória, o indivíduo estará bastante próximo da sexualidade madura.
No caso contrário, em função de um fracasso na entrada no Édipo ou equívoco na busca do objeto amoroso, a expectativa de cada um dos cônjuges não é satisfeita. Situações onde a frustração é mantida conduzem a relações amorosas insatisfatórias.

Imaturidade Amorosa
Além da natureza de certos desencontros, é preciso investigar a qualidade de algumas interações ao descrever o que é um o encontro ideal para um conjugue inseguro. Maior a frustração em encontros precedentes, maior o anseio por relações afetivo-sexuais idealizadas.

A Fantasia do Pau Fincado
Quando uma mulher insegura estabelece uma ligação muito intensa com um homem, ela sente o seu possuidor como se fosse único. Este sentimento de completude é agravado pela existência de filhos. Ela não pode se desprender dele sob pena de retornar um enorme sentimento de insegurança (ou seja, tornar-se metade de si).

Na ausência deste homem, a intensidade da satisfação afetiva deixa como resíduo uma fantasia sexual. Às vezes, ela sente como se o seu pênis continuasse dentro de sua vagina. Quase consegue senti-lo quando se move ou senta. Algo está fincado preenchendo o vazio interior. Esta fantasia psíquica é útil para entender porque a mulher não se sente disponível para outros homens enquanto ainda está ligada à alguém. Ela pode sair conversar, socializar etc. mas o pau fincado não permite que outro pênis ocupe o mesmo espaço ao mesmo tempo. Ela só estará disponível novamente após perder esta ilusão de completude. É este retorno a um estágio de incompletude que irá promover uma nova busca afetiva.

A Fantasia da Boceta Encaixada
Embora a fantasia masculina da Boceta Encaixada seja concebida em oposição simétrica à fantasia feminina, no homem as coisas são um pouco diferentes. Para ser verdadeiro, o sentimento de fidelidade passa por um processo tortuoso e complexo. Como foi visto anteriormente, para o homem, o encontro sexual não se acompanha necessariamente de univocidade ou de uma escolha relacional permanente. Se o encontro é extraordinário, a natureza da relação com a mulher passa a ser uma experiência altamente valorizada e o homem fantasiará a mulher como um ser ideal (e.g. ela é uma pessoa única).

No homem inseguro, a experiência sexual intensa e prazerosa é igualmente sentida como unívoca. Mesmo reconhecendo a existência de outras mulheres atraentes, a boceta encaixada as torna circunstancialmente desnecessárias. A falta de motivação ocorre não por preconceito em relação ao encontro sexual, mas porque, a partir desta experiência sexual única, a parceira passa a possuir atributos psicológicos idealizados (e.g. jamais encontrei uma mulher como esta). Portanto, o encontro emocional tem uma tonalidade sexual.

Na prática, não existe uma simetria amorosa entre homem e mulher. Muitas vezes, o início do relacionamento foi fruto de uma situação puramente circunstancial, fortemente influenciada pela pressão do desejo sexual. Conseqüentemente, o casamento se depara com expectativas assimétricas nas quais um raramente satisfaz o desejo do outro. Em primeiro lugar porque ambos dificilmente atingem a maturidade psico-sexual; em segundo lugar, porque raramente fazem escolhas mais maduras em encontros subsequentes e, finalmente, porque, com freqüência, mantém escolhas equivocadas.

As expectativas contrastantes entre o homem e a mulher, ou seja o que um espera do outro, dependem de um sem número de fatores que abrangem componentes imaginários, simbólicos e reais. Não obstante, com a progressão do desenvolvimento psico-sexual, existe uma tendência a agir, antecipar, esperar e sentir que é bastante diferenciada.

No homem, a realização do desejo sexual geralmente se transforma em afeto - o gozo leva ao prazer afetivo - embora seja a completude afetiva que promove a fidelidade. Na mulher, a completude afetiva usualmente torna um encontro sexualmente irrelevante em uma relação relevante - o prazer afetivo leva um orgasmo melhor ? embora seja a satisfação sexual que restringe a possibilidade de ser infiel.
Curiosamente, devido a importância sociocultural que as mulheres dão ao ato sexual, elas esperam que o sexo se acompanhe de uma relação afetiva. Por isso, costumam se sentir ansiosas após o primeiro encontro sexual, quando as expectativas de um encontro afetivo são maiores. Elas querem sentir mais do que um acoplamento corporal, elas querem ser amadas. Relatando o uso de Viagra pelo seu parceiro, uma cliente confidenciou eu não quero um homem de pau duro, eu quero um homem que me telefone no dia seguinte.

Nos homens esta ansiedade por um encontro afetivo é menor depois do encontro sexual. A posse sexual nem sempre implica vinculo afetivo. Ao contrário do valor afetivo que a mulher dá ao ato sexual, no homem, é comum um certo distanciamento afetivo depois do ato sexual. Depois do encontro, ele pode postergar e esperar pelo afeto.

Independente destas dissimetrias, as fantasias simétricas da boceta encaixada e do pau fincado eventualmente ocorrem. Tanto no homem como na mulher, a função destes encontros amorosos idealizados é a de proporcionar segurança para um eu originalmente inseguro. O homem busca segurança sexual enquanto a mulher busca segurança afetiva. Quando estas situações transitórias e próximas da idealização deixam de existir, o eu retorna ao seu estado de insegurança e incompletude edipianos e a manutenção da fidelidade enfrentará novas vicissitudes.

Fidelidade
Em termos socioculturais, homens e mulheres tem uma educação sexual desigual. A maior liberdade sexual experienciada pelos homens durante a adolescência se associa à fácil obtenção do orgasmo através de um prazer explícito (i.e. ejaculação) . Esta forma de alívio de tensão condiciona um perfil bio-psico-social. O homem sente a mulher como objeto e, por isto, admite a possibilidade de manter relações eventuais com outras mulheres. Ao mesmo tempo, quer manter sua escolha objetal. Só aceita a acusação de infidelidade quando a traição incluiu um elemento afetivo e não se restringiu ao ato sexual.

Já a mulher, cuja psico-anatomia é diferente do homem, possui a fantasia do corpo aderido e, por isso, interpreta toda a relação sexual como uma busca afetiva. Khan (1989) descreve o quanto o orgasmo por si só é insuficiente para a mulher3. Quando ela descobre a infidelidade do marido não está psicologicamente preparada para aceitá-la. Obviamente, se ele transou, é porque ela foi trocada por alguém. Para o homem, esta forma de interpretar o episódio não corresponde à sua realidade emocional. O encontro sexual não deveria ser motivo para ressentimentos. Ele sequer cogita a possibilidade de um divórcio. Se a relação sexual não for boa, a amante não encaixa e, assim, não há traição. O fato de não ter trocado de objeto na entrada do Édipo, intensifica mais ainda a relutância em separar.

Nas discussões, as justificativas apresentadas pelo homem (e.g. ela não representa nada para mim) são veementemente refutadas pela mulher e, geralmente, interpretadas como desculpas inaceitáveis. Esta recusa faz com que o homem se sinta incompreendido. Ele se sente agredido em seu amor próprio (e.g. não acreditas no que sinto por ti), ferido por não sentir-se suficientemente amado e injustiçado por não ter o seu amor reconhecido.

Quando a esposa o deixa por um outro homem, consegue imaginar que está sendo injustamente rejeitado. Portanto, é fácil admitir que homem e mulher possuem diferentes expectativas psicológicas.

As dificuldades decorrentes destas perspectivas psico-sexuais contrastantes explicam grande parte dos conflitos existentes no cotidiano. Quase sempre, é a insatisfação afetivo-sexual que gera a infidelidade. A possibilidade de um encontro amoroso fiel depende da maturidade de cada um dos conjugues. Esta, por sua vez, depende da capacidade de se colocar no lugar do outro e harmonizar fantasias sexuais inerentes a cada um dos sexos.

Maturidade não implica promiscuidade. Antes de tudo, é preciso que exista amor entre o casal. A maturidade sexual é obtida quando se consegue ficar excitado(a) sexualmente com alguém que não se possui e se ama. O verdadeiro amor reconhece a sexualidade do outro como autônoma e independente.

3- Khan descreve o caso do jovem que queria continuar virgem. Ele proporcionava fellatio mas negava o pênis as suas namoradas. As parceiras, despertadas eroticamente, buscavam mais do que um pênis. Invariavelmente, elas terminavam se apaixonando por outros homens e o abandonavam.

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